Lisboa, 24 de Novembro de 2011.
Caros Sindicalistas,
O país parou e assim foi mais um dia em que a economia derrapou uns quantos milhões. Mas pergunto-me o que serão estes milhões gastos num dia ao lado dos milhões e milhões dispendidos ao longo dos anos em inaugurações de toda a espécie, umas com mais utilidade, outras nem tanto, umas para justificar necessidades, outras para mostrar que se deixou obra (pouco) feita. Sempre ouvi dizer que a ruína traz ruína e que a competividade gera competividade. Convinhamos que 20 milhões de braços cruzados à espera que o país dê uma volta de 360 graus não é bem o meu conceito de querer ser competitivo, nem uma ideia muito plausível de ser entendida pelo ser humano. A legislação laboral prevê o direito à greve, é verdade. Dir-me-ão que querem lutar por direitos, mas pergunto: que direitos, se muitas vezes não cumprimos os nossos deveres? Se bem me recordo, em Junho houve eleições para o Governo. E no momento mais crítico da vida deste País, eis que surge a maior abstenção eleitoral da história das legislativas. Tenho para mim que os 41% dos senhores que dizem ser portugueses em nada contribuíram para a actualidade. Prefiro os 59% que saíram de casa para, mal ou bem, expressarem a sua intenção. Agora, não venham refilar porque “ai, dói-me as costas”, “ai, isto está uma miséria”, “ai, ai, ai”. Tudo bem que a vida não está para sorrisos, mas não é com lamentações de quem se deixa contemplar pela utopia de que parar move o mundo, que isto algum dia dará uma cambalhota. Alguém que queira tirar ilações junto de quem nos governa? É que se quiserem falar cara a cara com o nosso Primeiro-Ministro, é só dizerem-me. Ele nem vive a 100 metros de mim, nem nada.
Cumprimentos,
Ass.: Português que não fez greve.